Fanfic Doctor Who – 12° doutor.



Luna olhou para o céu noturno, a lua estava tão fina que mais parecia uma lasca de unha insignificante, claro que ela ainda estava lá, mas mal refletia a luz do sol, de modo que as estrelas pareciam mais numerosas, pois até aquelas mais distantes, que mal se podia distinguir a luz, e normalmente eram ofuscadas pela lua, estavam visíveis, fazendo um rastro no céu escuro. Era tão estranho pensar que aquelas luzinhas fossem grandes estrelas, e muito muito distantes.

A menina ficou tonta, parecia às

 vezes que, se olhasse demais, aquela vastidão iria engolí-la, como quando se está perto de um precipício e parece que ele te puxa para a beirada, então você fica tonto, e o seu corpo tenta resistir a essa força, pois tem medo que possa ser puxado para o abismo, era a mesma tontura, o mesmo medo de cair, de ser engolida pela vastidão. Ela desviou o olhar rapidamente, pois inconscientemente seu corpo já tentava se afastar da beirada, e se desequilibrava para o chão.

- Belo tombo! – Era a voz do zelador do orfanato de onde morava. – O que faz aqui?

- É muito alto. – Respondeu ela calmamente voltando o olhar para o céu, quando o fez viu algo que parecia uma estrela cadente.

- O que é alto menina? Você está no chão! – Ele deu uma leve gargalhada enquanto a ajudava a se levantar. – Não tem nem como cair mais.

Rubem era zelador do orfanato Hendrix fazia bons anos, antes disso era caseiro em uma fazenda ali perto, viúvo e sem filhos, morava sozinho em uma pequena casa no terreno do orfanato, que era bem espaçoso. Seu trabalho era cuidar dos jardins e da manutenção do lugar, não era um trabalho fácil, mas ele gostava, o espaço era cheio de vida com crianças esperançosas que sempre estava disposto a ajudar, isso fazia sua vida ter mais valor, coisa que não tinha na fazenda.

Várias crianças já passaram pela casa nesses anos, mas nenhuma era como Luna, uma menina esperta, solitária e um pouco estranha, mas nada fora do comum, o que mais a diferenciava é que ela era a única criança que não queria ser adotada, queria ficar no orfanato, se sentia feliz ali. A senhora Astin tentara persuadir a menina de como uma família poderia ser importante, mas Luna era irredutível. Rubem gostava dela, era uma boa menina.

- Venha, já passou da hora de você estar dormindo. – Disse ele colocando a mão no ombro de Luna para acompanhá-la até a casa.

Porém antes de começarem a andar os dois ouviram um barulho estranho, um som constante que ia e vinha, um pouco arranhado, como de um porco gritando, só que menos estridente mais grave e intenso. Então, algo foi surgindo, assim do nada, onde havia apenas vazio, uma estrutura azul, uma... Cabine telefônica?

Pouco tempo depois da estrutura aparecer, alguém surgiu de dentro dela rapidamente, um homem alto e magro com cabelos grisalhos e roupas formais, calças sociais, botas pretas, uma camisa branca, com um colete por cima, um sobretudo e óculos escuros, mesmo sendo de madrugada.

- Olá, algum de vocês pode me informar onde eu estou? – Disse ele arqueando uma sobrancelha.

Os dois se olharam e depois olharam para o estranho que acabara de aparecer.

- Na... No... – Tentou o zelador tentando organizar os pensamentos. O estranho mexeu a mão e inclinou a cabeça como que o encorajando ele a continuar.

- No?

- Orfanato Hendrix. – Continuou hesitante.

- Um orfanato? Hmm... – O estranho olhou para a casa, depois para a cabine telefônica e para os dois. – Em que ano?

- Ora, 1954!

- 1954? Estranho, o que há de interessante em um orfanato em 1954? Por que me trouxe aqui? – O estranho parecia não se dirigir às pessoas e sim, à sua cabine. – Mas que país é esse, está frio... – Ele lambeu o dedo indicador e o apontou para cima. – Ah! Noruega.

- Quem é o senhor? – Foi Luna quem perguntou dando um passo a frente.

- Eu sou o Doutor. – Respondeu ele orgulhosamente.

- O senhor é um médico e policial?

- Não e sim. Interessante... – Ele se abaixou e analisou a criança mais de perto. – Qual o seu nome?

- Luna.

Ele encostou nos óculos e eles fizeram um barulho estranho.

- Luna como a lua?

Ela assentiu com a cabeça.

- De onde você é Luna?

- Daqui. – Respondeu apenas.

- Ela foi deixada aqui quando era muito pequena para se lembrar. – Interrompeu Rubem.

- E quem é você?

- Sou o zelador, pode me chamar de Rubem. – Ele estendeu a mão mas o doutor o ignorou e continuou olhando para Luna um momento. – Desculpe perguntar, mas como? – Ele apontou para a cabine.

- Ah! Bem... – O doutor pareceu desconcertado. – Esta é a TARDIS, uma nave que viaja no tempo e no espaço, ela que me trouxe até aqui, normalmente ela me leva aonde eu preciso estar, ou onde precisam de mim... às vezes os dois. – O que é aquilo? – Perguntou de repente passando pelos dois.

Luna saiu correndo atrás dele e Rubem foi atrás. O Doutor parou na frente da parede da frente do orfanato onde uma espécie de gosma acinzentada escorria e, novamente, ele tocou nos óculos, de novo o barulho estranho.

- O senhor parece mais um mago do que um doutor. – Disse a menina, de repente.

- Por quê? – Perguntou o doutor sem se virar para ela, ainda analisando a gosma.

- Usa um sobretudo preto, é alto, magro, velho e tem uma caixa mágica.

- Velho? – Perguntou ele um pouco ofendido.

- E esse seu óculos faz um barulho estranho! – Continuou ela.

- Não é um óculos qualquer, ele é sônico e identifica qualquer tipo de informação. – Ele parou um pouco antes de prosseguir. - Além de abrir portas.

- O que é essa gosma? – Perguntou Rubem interrompendo os dois. – É muito grossa para ser de uma lesma.

A gosma de repente tomou a forma de uma mão e tentou agarrar o doutor, ele desviou rapidamente e tocou nos óculos sônicos novamente fazendo-a recolher.

- Jesus! – Gritou Rubem com espanto

- Com certeza não é de uma lesma. – Respondeu o doutor. – Não se preocupem. Eu a neutralizei.

- O que é isto doutor? – Perguntou o homem.

- Parece algum tipo de meleca genética, mas não faz sentido... – Ele olhou para o zelador e continuou. – Rube, preciso que você procure por mais dessa gosma pela casa. Não toque nela. – O doutor pegou um frasco do bolso e colocou um pouco do produto sem tocar nele. – Vou examinar isto melhor na Tardis. Você! – Ele se voltou para menina. – Venha comigo.

- Rubem! Com M no final – Corrigiu o homem antes de sair para fazer o que o doutor mandara.

- Foi o que eu disse. – Respondeu, indiferente.

Quando os dois chegaram na Tardis a menina ficou espantada.

- É... – Começou ela.

- Sim, maior por dentro. – Completou ele se dirigindo ao painel.

- Linda! – Completou a meninada, maravilhada.

O doutor arqueou a sobrancelha surpreendido. “Eles nunca fazem direito. A Tardis merece mais emoção.” Pensou. Depois de apertar alguns botões, ele se dirigiu a menina que já estava do outro lado da nave olhando para a outra porta.

- O que tem atrás disso? – Perguntou ela.

O doutor se aproximou dela com cautela. – Você é uma menina muito curiosa... – Luna olhou para ele, surpresa. O doutor continuou. – E observadora, muito observadora. – Ele parou por um momento esperando que ela respondesse algo, mas como não aconteceu, ele prosseguiu. - Demais, para não perceber uma gosma dessas pelo orfanato antes.

A menina ficou pálida. – Eu não achei que fosse perigoso... – Ela olhou para os pés. – Pensei que, se soubessem que saiu do meu quarto, iam me castigar, ou me expulsar, mas não foi minha culpa. – Ela começou a chorar, as lágrimas eram acinzentadas como a gosma. – Não conte para eles, por favor.

Ele a fitou por um momento, analisando se ela estava falando a verdade ou não, parecia estar.

- Não se preocupe, eu acredito em você. – Disse ele dando um tapinha no ombro dela. - Agora me leve até o seu quarto.

Quando o doutor saiu da nave, viu dois olhos fumegantes olhando para ele. Era uma mulher baixa e robusta, mas seu olhar parecia cortá-lo em dois.

- Eu já chamei a polícia! Ah! – Ela deu um gritinho quando viu Luna saindo da cabine telefônica e a puxou para si. Seu pervertido! – Ela avançou no doutor como um felino feroz arranhando-o. - Vá para a casa Luna. – Gritou.

- Espera senhora Rules! – Gritou a menina tentando ajudá-lo.

- Que barulho é esse? – Veio outra voz feminina saindo da casa.

Outras crianças e serventes também acordaram e olharam pela janela ou saíram para ver.

- Senhora, Astin, senhora Rules! – Gritou Rubem quando chegou, correndo até a última e a separando do doutor. – Não é o que parece senhora, eu o conheço.

- Para dentro crianças! – Gritou a senhora Astin dando ordem ao caos. Todas as crianças obedeceram, menos Luna. – Vocês também! – Disse apontando para o doutor, para senhora Rules e para Rubem. – Venham, vamos conversar, Luna você também.

Na cozinha, a senhora Astin fazia todo tipo de pergunta e o doutor e Rubem tentavam ao máximo responder. A senhora Rules estava do lado dela com um olhar acusador.

- Já chega! – Disse ela por fim, senhora Rules leve a menina para o quarto.

- Mas... – Começou Luna, porém a senhora Rules já a empurrava.

- Sem mas. Quanto a vocês... – Ela deu um suspiro e parou um pouco para pensar.

A senhora Rules já estava na porta, levando Luna, quando algo chamou sua atenção. – Ah! é dessa pequena gosma que estavam falando? – Perguntou com escárnio, uma pequena amostra da gosma escorria pelo batente da porta. – Ela parece muito perigosa...

O doutor se levantou. – Se afaste. – Começou ele, mas já era tarde, a senhora Rules já havia tocado na gosma. Foi muito rápido, em um momento estava lá, no outro havia sumido e sobrara apenas um pó estranho. A gosma nem tinha se mexido, ou aumentado de tamanho. A senhora Astin deu um grito de surpresa. O doutor pulou para frente e com seus óculos sônicos neutralizou a coisa.

- Senhora Astin e senhor Rubem tirem as crianças da casa. Luna, venha comigo. – A senhora Astin ouvindo o tom autoritário do doutor nem contestou. Ele era o único que parecia saber lidar com a situação.

Eles ouviram o som de sirenes. Era a polícia, que a pobre senhora Rules chamara antes de ser desintegrada. – Despache esses homens. – Disse ele quando ouviu o som conhecido. -  Eles só vão atrapalhar.

- Mas... – Começou ela.

- Sem mas. – Interrompeu o doutor, Luna tentou conter um rizinho com a ironia. - Se quiser salvar essas crianças faça o que eu disse. – Ele mostrava uma confiança impossível de contestar. -  Você! me mostre onde viu a gosma pela primeira vez. – Disse para Luna e ela tomou a frente levando-o para o quarto.

Logo os dois estavam em um quarto minúsculo. Diferente de outros orfanatos, aquele tinha quartos separados para as crianças. Tinha alguns focos de gosma pelo quarto, principalmente saindo de uma sacola com panos. O doutor tocou nos óculos sônicos.

- Eu não entendo, eu vivo limpando essa gosma e tocando nela...

O doutor se aproximou da menina e olhou para ela.

- Essa gosma é uma espécie de bactéria alienígena, ela já conhece o seu material genético, mas absorveu o da senhora Rules para receber a informação, ele absorveu todo o DNA dela. – Ele olhou fixamente para a menina, ela não parecia entender nada do que ele estava falando. Tocou o ombro dela e perguntou seriamente. - Me diga Luna, o que veio com você, quando foi deixada aqui?

- Eu estava enrolada em um pano branco, ele está naquele baú. – Ela estava visivelmente assustada. – Por quê isso é importante? Por quê essa coisa saiu do meu quarto? O que é material genético?

O doutor ignorou as perguntas e foi até o baú, o inspecionando com os óculos sônicos.

- Foi o que pensei... – Ele se ajoelhou perto de Luna e a segurou pelos braços. – Preste bem atenção no que eu vou te dizer.

 

...

 

Em pouco tempo todos estavam fora da casa do orfanato que estava totalmente em chamas.

- Era a única opção. – Disse o doutor. – Era o único jeito de esterilizar o lugar.

- Mas e agora? – Perguntou a senhora Astin em desespero. – Está tudo acabado... Onde essas crianças vão ficar?

- Quanto a isso... – O doutor tirou algo do bolso e entregou a mulher. – Venda isso e terá o suficiente para comprar dez orfanatos.

A mulher olhou para o objeto com espanto. – Mas é um colar de diamantes...

- Foi da rainha Vitória. Longa história. – Respondeu ele.

- Mas e agora, para onde eu vou? – Perguntou Luna com tristeza. – Eu não quero ir embora...

- Você não tem escolha, como eu disse você não é da terra, é de um planeta destruído, o planeta Lordex. Provavelmente teus pais te trouxeram aqui para protegê-la, junto com essa bactéria do seu mundo que foi evoluindo nesse sistema sem imunidade. Mas esse ambiente era para ser passageiro para você, eles esperavam poder tê-la de volta, mas provavelmente algo aconteceu a eles não puderam voltar. Esse ambiente não é ideal para você, não viverá muito aqui.

- Eles morreram? – Perguntou ela com lágrimas começando a escorrer no rosto pálido.

- Provavelmente. – Respondeu ele, honestamente.

- Mas doutor. Eu não quero ir. – O choro aumentou. O doutor não suportava aquele som, mas se conteve, a menina teria um futuro difícil pela frente. – Não quero ficar sozinha.

- Eu vou com você. – Disse Rubem decidido.

- Você não pode. Como ela não viveria muito aqui, você não vai viver muito lá, além disso, a energia do seu corpo vai se concentrar em mantê-lo vivo, isso pode acarretar em graves consequências, com o tempo você provavelmente ficará surdo ou cego.

- Eu já sou velho doutor. Não vou viver mesmo por muito tempo. – Ele olhou com ternura para Luna ao seu lado. - Mas pelo tempo que me resta, serei feliz, se puder ajudar essa menina.

- É um homem bom. – Disse o doutor surpreendido com uma atitude tão altruísta e corajosa, isso o lembrou do motivo de gostar da humanidade. - Levarei os dois então. – Ele se ajoelhou e olhou Luna nos olhos. – Prometo que encontrarei um ambiente ideal para você, você poderá até escolher entre o melhor, dentre os que eu lhe der. Muito mais desenvolvido do que este.

- Mas eu gosto tanto daqui... – Ela limpou as lágrimas com as mãos, já mais calma com a companhia do zelador, que sempre a tratou com carinho.

- Você verá, quando estiver em um ambiente melhor, que ficará muito mais aliviada, menos cansada, e descobrirá muitas informações sobre a sua espécie. Aqui a sua energia, voltando-se para deixá-la viva, havia a incapacitado de ter várias coisas que a sua espécie tem de especial, como uma vida bem mais longa do que a dos seres humanos, uma visão de águia e a audição de um cachorro, e ainda mais. O equivalente a perder um sentido inteiro, você só pode sentir isso, se vier comigo e eu garanto que será incrível.

A menina assentiu, as lágrimas ainda escorrendo pelo rosto, Rubem ofereceu a mão para ela.

- Eu vou estar com você. – Disse ele.

Luna deu a mão para ele, estava úmida e fria de medo. O doutor voltou a ficar de pé. – Vou entrar, se despeça de seus amigos e poderemos ir.

- Obrigada, doutor. – Disse a senhora Astin antes dele entrar. E o doutor acenou com a cabeça. A senhora Astin se despediu da menina e logo os dois haviam sumido para dentro daquela cabine. “Até chegar lá deve ser desconfortável viajar nesse cubículo.” – Pensou ela.

Logo um barulho constante que ia e vinha começou, um som estridente, então a nave começou a desaparecer...

Dentro da nave o doutor mexia no painel.

- Isso é... – Rubem estava impressionado olhando para todo aquele espaço. – É maior por dentro!

Luna deu um sorriso e as lágrimas cessaram.

- Como pode ser possível? – Perguntou ele sem sair do lugar. – Depois de todos esses anos, de tudo que eu vi. – Dessa vez foi ele que deixou escapar uma lágrima. – É agora, no fim da minha vida, que verei muito mais do que vi na vida inteira.

O doutor deu um pequeno sorriso. “Está chegando perto da reação que eu espero” Pensou. - Então... – Ele se voltou para seus dois novos hóspedes. - Querem conhecer o que tem atrás daquela porta? – A menina assentiu sorrindo.

- Você vai se impressionar... – Ele apertou um botão e a porta se abriu.

 

...

 

 



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