Capítulo 1



Leandra diminuiu a velocidade da nave, uma YT 2400 (não muito nova), para entrar no planeta desértico, a escolha do local não surpreendeu a caçadora, Tatooine era o melhor lugar para um encontro sigiloso, esse em especial a fez ficar muito curiosa.


Ela pousou na baía de Mos Eisly, cidade portuária de Tatooine. A melhor cidade para um caçador passar o tempo e conhecer todos os criminosos da galáxia. Antes de sair, porém, tomou precauções de segurança na nave, ativou todas as trancas e armadilhas, depois vestiu sua armadura leve e colocou um manto meio maltrapilho por cima, puxando o capuz para esconder o rosto. 

O local do encontro era em um bar próximo a baía, bastante movimentado, que Leandra já conhecia muito bem, entrou nele com a cabeça abaixada e fingindo um leve manquejar em uma das pernas. Ninguém iria pensar em roubar um pobre manco, e se tentasse, com certeza, subestimaria sua vítima.

O lugar estava, como sempre, cheio e ninguém pareceu percebê-la ou se importar com ela. Leandra fingiu o que seria suas últimas moedas e colocou discretamente na bancada apontando para uma bebida, um homem demorou um pouco para atendê-la dando preferência aos outros, mas logo colocou um copo com uma bebida esverdeada na frente dela.

Leandra pegou o copo e saiu da bancada encontrando algum lugar mais escuro para observar.

- Nos fundos. – Sussurrou uma voz conhecida perto dela, mas quando ela se virou para ver já não estava lá.

Com um suspiro Leandra bebeu o resto de sua bebida e saiu pelos fundos do estabelecimento, mas não havia ninguém lá, além de uns poucos bêbados. Andou mais alguns metros até um lugar vazio e ouviu passos se aproximando.

Ela deu três tiros e olhou para ele, com os olhos fervendo, enquanto o homem estava calmo e parado sem se importar com os três enormes buracos que fumegavam dos tiros que passaram a milímetros do seu corpo.

- Escória... – Disse ela com a blaster fumegando em sua mão.

- Você não mudou nada. - Disse o homem. Tinha a voz rouca e grossa.

Ele ficou em silêncio enquanto ela se aproximava como um animal se preparando para atacar a presa. O homem era magro e esguio, o cabelo escuro estava despenteado e os fios caiam pela testa, tinha uma cicatriz que vinha do canto da boca até perto do olho esquerdo, seu olhar era astuto, ele a esperou calmamente. Leandra o fitou por alguns minutos, e então, com um suspiro cansado, deu as costas com desdém, como se visse que a presa não valia o esforço.

- Pensei que estivesse morto. É uma pena não estar. – Disse ela, finalmente. Colocando a blaster no coldre.

- Mas não estou. – Respondeu simplesmente.

- Da última vez que ouvi o seu nome, estava sendo procurado. Ofereceram um bom preço pela sua cabeça. Se ainda estivesse a prêmio renderia muito para mim. – Leandra se escorou em uma parede próxima.

- Mas agora eu não tenho valor morto.

- Como me achou? – Perguntou ela com curiosidade.

- Tenho meus métodos. – Disse ele sem desviar o olhar dela. O homem se aproximou devagar e tirou o capuz que cobria o rosto de Leandra. Fitou-a por alguns segundos e se afastou. – Foi mais fácil do que pensei que seria.

- Fale logo, o que quer Hector? – Perguntou a caçadora cruzando os braços.

- Preciso que volte a ativa. – Respondeu Hector. - E alguma hora você precisaria voltar e sair do buraco de onde se escondeu.

 - Eu não me escondi, me afastei. Enquanto todos os caçadores ficaram para abocanhar as recompensas da guerra.

- E por que não ficou para “abocanhar” as recompensas da guerra?

 - A guerra é imprevisível, sei que muito dos melhores morreram. – Ela deu um suspiro cansado. – Seu hipócrita... Como um caçador de recompensas de repente se alia aos rebeldes?

- Muitas coisas me levaram a isso, e teve alguém...

- Ah! É claro que teve. - Respondeu ela com desdém. – Onde ela está agora?

Ele a fitou e deu um breve sorriso sarcástico. – Quem é o hipócrita agora?

- Afinal, veio aqui só para rever velhas amizades? – Ela perguntou irritada.

- Não. – Respondeu ele seriamente. – Tenho uma missão importante e preciso de reforços.

- E não tem ninguém melhor para isso? – Perguntou ela ironicamente.

- Melhor para você que finalmente terá um trabalho. – Respondeu ele novamente em tom sarcástico.

- Trabalho sozinha, é só me dizer quem eu preciso matar.

- Não para matar, chamei você porque felizmente, tem outras coisas em que é competente.

- Minhas outras competências são meramente para ajudar a primeira. Mesmo assim eu não trabalho por “velhas amizades”.

- Não se preocupe sua recompensa virá em créditos.

- Mas o que os rebeldes querem afinal? A guerra acabou.

- A guerra sim, mas as disputas estão longe de acabar, disputas assim, só irão acabar quando o universo morrer conosco. – Havia um pouco de amargura na voz dele quando falou. – Como nós, os simpatizantes da ordem também estão reunindo forças, e eles são mestres em infiltrar, trair, espionar... Mas os rebeldes ainda estão mais preocupados com o renascimento sith.

- Os sith, seres perigosos esses. – Ela arqueou as sobrancelhas.

- Os rebeldes estão preocupados com essas ameaças, mas também precisam se fortalecer e reestabelecer a república, e, como sabe sou bom em encontrar pessoas. Me encarregaram de ir até as regiões desconhecidas da galáxia, parece que tem alguma força negra se fortalecendo por lá, é uma área perigosa e preciso de ajuda nisso, ajuda que eles não podem me dar.

- Para as regiões desconhecidas? Isso é suicídio. – Respondeu Leandra surpresa.

- Por isso me escolheram, querida, e por isso escolhi você. – Disse ele com um sorriso malicioso.

A caçadora ficou algum tempo em silêncio, precisava desesperadamente de créditos, gastara tudo em seu exilio e não conseguira nada desde então.

- Já fui uma vez para lá, e me arrependo amargamente. - Falou por fim.

- Nunca pareceu que se arrependia, não do modo como conta. A não ser que tenha sido mentira... - Ele a fitou com curiosidade. Ainda não tinha negado sua proposta, por mais perigosa que fosse.

- Não vai me convencer desse jeito. Sabe disso.

- Eu sei que como eu, precisa de algo assim, desbravar o desconhecido. - Continuou Hector

O rebelde sabia que as regiões desconhecidas fascinavam a caçadora, assim como o perigo a atraia, mas tinha algo mais... Ela não tinha um trabalho fazia tempo, a fama de um caçador de recompensas era essencial e o tempo que Leandra passou fora foi significativo para a esquecerem. 

- Não gosto de ir para regiões onde não posso me preparar, o desconhecido é algo muito perigoso, além do mais, não gosto de trabalhos em equipe. – Ponderou ela.

Leandra já estava barganhando, ele sabia disso.

- Vai ser bem paga por isso. - Hector pegou um pequeno saco e jogou para ela. – Um adiantamento. - O que tinha no saco era mais do que o bastante.

 - Hmm... – Leandra pegou o saco e olhou dentro. - Não é muito – Ela prendeu o saco no cinto e cobriu com o manto. - Mas está bom para começar.

- Eu não sou um amador nisso, meu bem. Arrume tudo o que precisa, depois nos encontraremos na baía. – Disse Hector antes de sair.

 

 

 

 ....





 

Hector apareceu pouco tempo depois de Leandra ter chegado na baía, ao lado dele, rolava um droide BB de revestimento enferrujado, e sensor não totalmente encapsulado na cabeça.

Leandra estava perto de sua YT, os esperando. Ao lado da nave, também jazia um corpo vítima das armadilhas da caçadora, provavelmente um sucateador. Hector chegou até a mulher, mas não cometeu o erro de tocar na nave.

- Esse é o BB-4. – Disse ele respondendo ao olhar inquisidor dela para o droide.

- É isso o que te deram? – Perguntou surpreendida.

- Não se engane pela aparência, esse droide aqui é inestimável. Fui eu que pedi ele, depois de me salvar na minha primeira missão.

- Inacreditável! – Disse Leandra dando as costas a eles em direção a entrada da nave. A escotilha já estava aberta.

O droide virou a cabeça para Hector sem entender direito o comportamento da caçadora.

- Não se preocupe. – Respondeu. – Você se acostuma. – Com um suspiro ele seguiu Leandra.

- Já desativei as armadilhas. - Disse ela antes de entrar na nave.

Hector a seguiu até a entrada da nave e esperou ali.

- Continua com essa sucata velha? - Perguntou ele, mas logo se arrependeu de alfinetá-la, ao ver o olhar frio que a caçadora lançou de volta.

- Sucata velha? Tome cuidado com a sua língua ou ela será arrancada da sua boca! 

Hector deu um sorriso com o canto da boca e arqueou a sobrancelha.

- Vai querer trazer alguma coisa para a nave? Antes de partimos. - Perguntou Leandra ao vê-lo parado ali.

- O quê? – Perguntou ele até entender o que ela queria dizer. - Não, não vamos com a sua nave, iremos com a minha nave.

- Você só deve estar louco, nunca vou deixar minha nave em Tatooine! Ela será sucateada assim que partirmos!

- Eu paguei um lugar seguro para ela ficar, uma garagem, ninguém irá mexer nela, eu garanto.

- E que garantia pode dar? Além do mais o que a sua nave tem de tão importante? – Perguntou Leandra irredutível.

- Ela tem tudo o que precisamos, além do mais, os cálculos estão feitos é só ativar o hiperpropulsor.

- Só pode estar de brincadeira!

O droide começou a emitir assobios e zumbidos altos visivelmente incomodado com a briga.

- Está tudo bem BB-4, a discussão já acabou. – Disse Hector sem se virar para o Droide.

- Sim, acabou, se não vai levar nada já podemos partir. - Ela puxou uma alavanca e a porta se fechou com eles na rampa de entrada.

- Essa nave não está equipada com o que precisamos. - Disse ele seguindo a caçadora que já se dirigia para a frente da nave.

- Não vou deixar a minha nave nesse lugar! Ela tem um valor inestimável para mim, além de todas as modificações que levei anos para fazer. Ela tem mais do que o necessário para qualquer lugar que possamos ir.

- Não, não tem! Para começar eu terei que tirar todo o equipamento que realmente é necessário e reinstalá-lo aqui, isso já vai levar um tempo desnecessário. – Respondeu o rebelde exasperado.

- Obviamente! Aconselho a tirar tudo o que puder, já que ela provavelmente não vai estar aqui quando voltar. Sabe-se lá quando vamos voltar.

BB-4 recomeçou a zumbir ansiosamente.

- Só um segundo! – Respondeu rapidamente ao droide antes de continuar. - Já disse... Sua nave ficará segura em Tattoine! - Disse ele impacientemente.

- Você usou mesmo a palavra “segura”, e “Tatooine”, na mesma frase? – Perguntou Leandra sem poder acreditar, não mudou o tom calmo quando se sentou no banco da cabine em frente ao painel de controle. - Hector... Não continue uma discussão que sabe que vai perder. Vá buscar suas coisas antes que percamos mais tempo.

Hector deu um suspiro de desagrado.

- Tem tanta importância ir com essa sucata...

- Estou avisando... – Respondeu ela, virando-se para ele ferozmente.

 

Demorou um pouco para saírem, mas enfim conseguiram sair de Tatooine, na YT de Leandra, depois de ter que instalar a comunicação na nave e transferir todos os equipamentos.

- Finalmente... - Disse ela quando ele a chamou para irem, já estava com suas roupas normais, botas de couro macia, camisa, calças, jaqueta de couro preta até o joelho e ajeitando suas luvas, também de couro. - Então para onde? - 

- O primeiro lugar que precisamos averiguar fica… – Ele apertou um botão no painel e um mapa holográfico apareceu mostrando a galáxia, ele aproximou a tela e apontou para um lugar. – Está nessa área! Mas isso vai levar vários saltos. A partir daqui... - Ele apontou para uma área depois de Coruscant. - Vai ficar bem difícil, vamos ter que fazer o labirinto e saindo de lá, precisamos tomar muito cuidado.

- É ótimo que tenha me escolhido para fazer uma missão suicida. - Respondeu ela com sarcasmo. 

- Não conheço ninguém louco o bastante além de você. - Retribuiu Hector

Ela ignorou a resposta. - Os cálculos já estão feitos eu só preciso reproduzir. – Respondeu Leandra mexendo no painel.

- Eu sei, eu mesmo os fiz. – Disse Hector ainda irritado por terem que ir na nave da caçadora.

- Então pode entender porque eu tenho que verificar. – Depois de alguns minutos, Leandra empurrou o hiperpropulsor e logo eles entraram na velocidade da luz.

...

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