Sonhos lúcidos. Pesadelos reais.



Eu estava na cozinha da minha casa quando olhei para cima e vi algo que queria pegar, eu precisei fazer um pouco de força para fazer meus pés saírem do chão e era difícil de controlar. Eu sabia que era normal, sabia que se me concentrasse, poderia voar, uma espécie de voo não muito eficaz, mais uma planação do que um voo. Saía pouco do chão e voltava logo em seguida, às vezes eu conseguia ficar mais tempo no ar, mas pouco.
De repente eu estava em um campo, uma descida e não conseguia descer o suficiente para tocar o chão, só conseguia ir para frente, e quando conseguia descer um pouco o chão ficava ainda mais baixo. Não dava para parar, não conseguia me apoiar em nada para parar. Continuei acelerando até cair em um monte de arbustos. Acordei, foi só um sonho. Mas aonde eu estava afinal?
Eu acordei no meio de uma rua desconhecida, de noite, de pijama, descabelada. “Eu devo ter caminhado, no meio dos sonhos, sonâmbula” - Pensei. Comecei a andar, via lojas e mais lojas, parecia ser o centro da cidade, tentei encontrar o caminho para casa, não encontrei.
Me bati em uma parede, meu corpo estava um pouco fora de controle, não conseguia parar de andar. Tentava voltar para casa, mas não a encontrava, e não conseguia parar, meu corpo era incontrolável e eu me batia nas coisas.
Então eu estava em um carro sem freio, precisando desviar de outros carros, não parando no sinal vermelho e torcendo para que outros carros não me batessem. Acordei em um susto, mas fiquei aliviada, era só outro sonho afinal. Sonho dentro de sonho. Não é legal, mas comum. Só que eram sempre os mesmos sonhos, sempre um voo estranho, sempre sem conseguir parar.
Sempre os mesmos sonhos... Levantei da cama, almocei, não fiz nada de dia, nada importante. De noite faculdade, casa, banho, janta, cama.
Eu estava na cozinha da minha casa quando olhei para cima e vi algo que queria pegar, eu precisei fazer um pouco de força para fazer meus pés saírem do chão e era difícil de controlar. Isso não aconteceu antes? Algo na minha mente apitou, era algo estranho, parecia real, mas não era, não era! E eu sabia disso, estava dentro do sonho e sabia exatamente disso. Forcei a minha mente e tentei mudar de cenário, mas nada aconteceu. Eu não consegui focar em nada.
Olhei em volta, pela primeira vez no sonho, e tudo estava distorcido. Tentei controlar meu corpo, mas me debatia nas paredes, ele era e, ao mesmo tempo não era, meu. Tentava ficar de pé, mas não dava. Não sabia bem o que fazer, era uma cozinha pequena. Então quis acordar, não gostei daquele sonho. Me belisquei forte, mas não senti nada, nada!
Segundo passo, me jogar no chão. Eu sabia que minha cama era meio alta, mas tudo aquilo já estava começando a me sufocar, então decidi arriscar. Me joguei no chão. Eu senti o baque no sonho, mas quando vi, o chão me jogou de volta, e lá estava eu ainda no mesmo lugar, no mesmo sonho, sabendo que era sonho.
Comecei a me desesperar, mas isso já era normal para mim até na vida real. Consegui encontrar meu quarto, ele era e não era o meu quarto. Deitei na cama.
Eu estava na rua, perto de casa, fora do portão. Precisava entrar no carro e dirigir. Era de manhã? Claro, era hora da escola! Que horas são? Estou atrasada. Acordei.
“Nossa que sonho louco, eu nem estou na escola.” Pensei. Já fazia uns anos que me formei, estou agora na faculdade. Na outra noite fiquei receosa em voltar a dormir. Os sonhos anteriores estavam bem vivos na minha mente. Eu sempre tive facilidade de lembrar dos meus sonhos, mas fazia um tempo que não acontecia mais.
Continuei a sonhar com a escola por um tempo, até teve vezes que eu pensei estar lá mesmo formada na faculdade. Sonhos cada vez mais lúcidos...
O professor explicava algo, e eu estava na primeira carteira da aula tentando copiar todo aquele texto gigantesco. Quieta enquanto os outros conversavam, e como sempre, eu estava no meu canto, sozinha. Quando algo me veio a mente, como da outra vez. Eu percebi que aquilo era sonho, sabia que não era real, porém dessa vez nada estava embaçado, tudo estava nítido.
Eu estava sentada, tudo parecia tão real dessa vez que quase pensei que estava ficando louca, claro que era real! Como eu poderia estar com essa dúvida na cabeça. Mas então esse pensamento esclareceu tudo, não, não tinha como eu duvidar estar sonhando quando estou realmente acordada.
Então decidi me levantar, andei um pouco, primeiro meio receosa, depois mais confiante. As pessoas começavam a mudar de jeito quando eu mudei o meu. Agora a aula era mais relaxada, depois era um filme passando na TV da escola. Porque eu estava andando, e tudo precisava me propiciar a isto, como se fosse normal andar no meio da sala de aula, pois minha mente continuava querendo insistir em me convencer que aquilo era real.
Dessa vez eu acordei melhor, não foi um pesadelo lúcido, apenas um sonho qualquer, eu estava lúcida, mas também estava calma. Levantei. Passou-se o dia, chegou a noite...
Lá estava eu no meio da rua, de noite, de pijama, descabelada. De novo um inside, de novo sabia que aquilo era sonho. Dessa vez comecei a explorar. Fiquei meio receosa quando sai andando um pouco, “E se estou lúcida suficiente para que meu corpo esteja andando por aí, sem a inibição do meu cérebro?” Pensei. Voltei para casa. Deitei na cama. Acordei. No meio da rua! Não espera, outro sonho. Acordei, de verdade. Alívio.
Outra noite, fiquei novamente meio receosa para dormir, por quê, de repente, comecei a ficar lúcida no meio de sonhos?
Eu estava de novo no meio da rua, isso já estava ficando muito repetitivo, por quê? A sim, eu estava em um sonho. Mas dessa vez sai correndo, queria ver tudo, dessa vez sabia que não ia sair do lugar. Tudo se misturava, mansões, lagos, um céu lindo, o entardecer, a floresta, um bairro mais pobre, uma calçada perto da casa da minha vó. Acordei.
Na outra noite tive outro pesadelo lúcido, dessa vez eu sabia o que fazer. Me deitei. Tive outros sonhos não lúcidos e Acordei. Ótimo, dá certo! Sei como lidar com pesadelos lúcidos agora. Levantei, passou o dia, outra noite. Não tive medo de dormir dessa vez.
Acordei! Estava muito tonta... Não conseguia controlar meu corpo direito, me debati nas paredes clamando pela ajuda da minha mãe, pensei estar tendo uma crise de pânico. Tentei me acalmar, sabia como controlar um ataque de pânico. Já tive muitos na vida real. Tomei meu remédio e tudo começou a ficar mais claro. A casa ficou mais clara, como se, de repente, fosse dia. Acordei. Feliz. Agora, pelo menos, não fora nada lúcido. Não foi mais lúcido, nenhuma outra vez.

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